quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A viagem do elefante. 
Alessandra Gomes

A longa viagem do elefante colaborou para transformações, conhecimentos, reconhecimentos, revelações. Amizades nasceram e desapareceram (as pessoas precisavam partir), atores entraram e saíram de cena. O medo aterrorizou e paralisou alguns, mas o elefante estava ali: impávido.. Como nossa limitada sapiência humana sabe muito pouco de elefantes, intuímos o quanto a longa caminhada (da vida) transforma nós humanos, mas pouco podemos dizer dos elefantes. Como na longa viagem à Ítaca, o mais importante foi o caminho, suas alegrias e intempéries, os aprendizados, a bela viagem proporcionada por Ítaca. Agora sei o que significam Ítacas.


No centro da América, um barril de cores vida. 
Por Angela Grillo

Para Alessandra e Miguel

Mergulhei num barril de todas as cores,
(Oxumaré também mora aqui?)
Eu que andava com a vida palerma olhando para mim,
me descobri mais latino-americana,
Colorida, musical, dançante, saborosa, sonora, palenque.
Mergulhei em águas azuis, cristalinas;
em pessoas tão curiosas como eu,
Mergulhei em olhares de felicidade e de pobreza.
Me lancei fundo em San Juan de Chamula,
minhas lágrimas aumentavam a profundidade do mergulho.
Propositalmente, fiquei à margem daqueles que só querem falar em inglês.
Mergulhei no frio dos lagos que não pude ver,
Na floresta de macacos nanicos que gritam como gorilas,
Nas construções espanholas, no chili, nos mariachis,
Nas praças lotadas, nos sorrisos e nas lágrimas.
Mergulhei nas folhas que o xamã batia em meu corpo,
as pedras presenteadas
mergulharam na minha mão.
Pela boca, mergulhou o mezcal de Don Piedro e Floriana;
Mergulho na troca, a música do francês, a comida do mexicano, a salsa do caribenho, a capoeira e samba brasileiro, o cinema da argentina, as artes e o carinho na Cidade grande.
Mergulhei no cheiro do incenso, no cheiro das flores, dos mercados e do pescoço.
Mergulharam-me em Orozco.
Mergulhei na espera da morte tranquila, aprendi que é possível não temê-la.
O espinho do cacto mergulhou no meu dedo, autosacrifício na pirâmide.
Cecília me disse nas ruínas que os mayas, aztecas, zapotecas, mexicas
também cantaram: Eu sei que um dia estarei mudo.
Pessoas e lugares me fizeram acreditar que posso continuar a mergulhar,
pois sempre haverá cores, crianças, mulheres, homens , animais (e a gente não é bicho?),
sentimentos, artes, histórias e caveiras que valen la pena.


DE VOLTA AO DF

Al poco de nacer viene el asombro. Y de brinco em brinco em los asombros nace el juicio. Y el juicio explica los assombros y el hombre se siegue asombrando, pero com juicio. Y se llega em la vejez al juicio de los juicios. No hay viaje directo del asombro al juicio. Cuando se rompe el juicio con el nuevo asombro, se hace indispensable um nuevo juicio que con sua razón rompa el asombro. (Alfredo López Austin. MACO - Museu de Arte Contemporânea de Oaxaca)

A viagem está acabando... uma dor no coração e uma certeza: é preciso voltar ao México. Pena que nossa passagem pela terra seja tão breve, porque é preciso voltar sempre.

Dor boa daquelas que vem misturada com alegria nostálgica, aquela alegria da saudade que só quem viveu sabe o que é. Uma alegria que paradoxalmente é um pouco triste também.

Os 30 primeiros dias foram mais corridos e cansativos, mas, apesar do turismo que fazíamos, procurávamos sempre ser viajantes (Gerardo me disse que nem sempre conseguimos separar essas duas coisas, o que é uma grande verdade), aprendendo com a cultura, encarando o estranhamento – com os observados e com nós mesmas – como uma forma de aprendizagem. Não há aprendizagem sem desestabilização já dizem alguns teóricos da educação. No caso de uma viagem para outro país e de seu inevitável contato com outra cultura, não há aprendizagem sem cansaço, sem sentir gosto e cheiros nem sempre conhecidos e agradáveis aos nossos sentidos (aprendidos em âmbitos macro e micro), sem a percepção de que temos pré-conceitos, sem desestabilização, portanto, e sem esforço. Esforço pra entender desde a língua diferente até o jeito próprio de lidar com situações cotidianas. Esforço para entender a importância da diferença e respeitá-la e não simplesmente tolerá-la. E sem medo de dizer (para nós mesmos) que há esforço para tudo isso, afinal este é parte fundamental do processo de qualquer aprendizagem. Para mim quando já não precisamos nos esforçar para entender que algo é de determinada forma porque é condicionado pelas dinâmicas culturais e sociais específicas, encontramo-nos mergulhados na cultura de tal forma que comparações que insistem no binômio melhores-piores tornam-se maniqueístas e inúteis.

“Escuta, eu te deixo ser. Me deixa ser então”. Clarice Lispector, em Água Viva

...

Foram dias de contato com uma natureza gigantesca e diversa: a selva de Chiapas, o frio das montanhas de Oaxaca, o sol quente das praias do Pacífico, o frio de doer os ossos em Montebellos, o azul profundo do mar do caribe, o mergulho nos corais (o Caribe por baixo), a magnífica visão da gigante tartaruga negra botando ovos na praia em Mazunte. Dias, muitos deles indescritíveis, com a cultura colorida, diversa, rica. Com a emoção de ver, em pleno século XXI um ritual tão puro e espontâneo como o de San Juan de Chamula; muitos dias de con-vivência com o cheiro da comida à base de milho que se espalha pelas ruas, com o sabor dos diversos tipos de chilli, com muita história cravada nas ruínas, nas ruas, nos mercados, nas igrejas. Com os muitos Méxicos.

As idas aos museus de Antropologia, de Arte Contemporânea, à Casa de Frida Khalo, aos murais de Rivera, Siqueros e Orozco foram belíssimas, emocionantes eu diria, mas nada substitui o contato concreto com a cultura, com as pessoas na rua, com as coloridas senhoras de Tlacolula em Oaxaca, com o barulho, as cores e os cheiros dos mercados públicos, com as caras que miramos e que nos miram a todo tempo: de crianças, velhos, mulheres muito maquiadas, pessoas que nos pedem coisas na rua, que nos interpelam para que compremos artesanatos, comidas, para que façamos tours por cascatas, mangues, ruínas, que nos perguntam de que parte somos e que num misto de surpresa e admiração dizem (principalmente os homens) "brasilenãs, uau!". Mas também, com o desconforto de encontrar policiais altamente militarizados nas ruas, nos ônibus, nas praias. Isso sim me dava medo e raiva. Saber que as pessoas convivem cotidianamente com batidas policiais enquanto o narcotráfico corre solto pelo país e muitos policiais estão, inclusive, envolvidos com ele.

Ao despedir-me do México tenho a mesma sensação vivida na Bolívia, no Peru, em Cuba, no Uruguai: é necessário sabermos mais sobre nossa Latinoamérica, é necessário conhecermos cada vez mais nossa cultura e a cultura de nossos hermanos latinos. A América Latina tem uma força tremenda. É linda, colorida, lugar de mulheres e homens fortes, guerreiros/as, criativos/as, inteligentes, bonitos/as.

O que esperava ao início da viagem se realizou: ela me trouxe conhecimentos, emoções, dúvidas, questões sobre mim e sobre o mundo, sobre as formas de viver. As diversas, infinitas e infindas formas de viver nesse NOSSO mundo, nessa NOSSA América Latina.

Responsabilizamo-nos por ela!


He estado en el norte

Por Maíra Castanheiro Magalhães de Moraes

(impressões poéticas de Maíra sobre outra parte do México que ainda não conheço)

He recorrido entre montañas llanuras desiertos playas bosques grutas

He despertado de mi sueño y topado con la realidad de piedra bruta

He caminado en un jardín de piedras moldeadas por el tiempo de la naturaleza

He contemplado la nieve bajo el cielo azul turquesa

He mirado los rayos y brillos del sol en los rostros de los tarahumaras

He observado muchas expresiones en sus caras que nosotros blancos ya no la tenemos

He vagado con el pancho por las letras de calle 13 al viento

He sentido pacho villa vivo y querido

He percibido un pueblo tomado por el miedo de los peligros

He platicado con una mujer infeliz que por la sequía ya no tiene dónde sembrar su maíz allá las personas están muriendo de hambre y siendo explotadas hacen 500 años tus cuerpos acumulan daños y aunque haya miles de muertos el pueblo no se muere

He conocido personas amables de pueblos que no quieren la guerrilla apenas luchan para tener sus tortillas del día a día esa gente vive bajo a la violencia política económica de los narcos de la policía del ejército así me habló un reportero

He notado su miseria vendida a fotografías y recuerdos

He descubierto cosas lindas

He oído cosas malas

He leído cosas feas lo que me pareció feo y malo no están en los periódicos porque no afectan los negocios

He fumado mota de Sinaloa mientras él comía un picoso burrito de barbacoa

He alcanzado el mar frío del pacífico

He estado en el viejo oeste una tierra sin abrigo hice amigo conocí a Jesús en la navidad Él ha peregrinado por toda su vida desde los 13 años de edad cruzó el desierto hacia Arizona pasó hambre sed y sobrevivió sin lana

He distinguido cabrones

He escuchado inglês

He escuchado espanglish

He comido quesos menonitas

He apreciado el cielo más lindo de mi vida

He disfrutado del azul celeste de Durango

He soportado el frío en mi cara y el fuego en blando

He espiado el sol morir mientras la luna sonreía por todo el día no

He vigilado el sol nacer

He observado la luna de guardia

He pisado en el espinazo del diablo

He visto el pueblo sufrir

He fotografiado ojos desconfiados

He estado en Chihuahua

He visto niños jugando beisbol bajo el sol nahua

He pasado por bosques de violáceos cactos

He andado por el norte una tierra en pedazos dónde el suelo es tan duro y bruto cuanto su propio pueblo hecho de adobe que has resistido al tiempo a la tierra a las piedras sus pieles son bordados de color de dolor de un futuro incierto aunque sean vencidos siguen siendo los vencedores del desierto.

Bienvenidos a una tierra de historia incierta.

...

A volta ao DF, apesar de rápida foi muito gostosa. Encontrei meus queridos amigos Nuno e Maíra, bebemos, batemos muito papo e demos muita risada. Martin, também brasileiro, um amigo de Maíra que eu e Angela conhecemos em San Cristóban de las casas, também estava conosco.

No sábado um churrasco animado na casa de Leopoldo, um querido anfitrião que trabalha na Cinemateca Nacional e pesquisa o negro no cinema mexicano. Conosco estavam argentinos, franceses, colombianos e brasileiros. Éramos a maioria. Em volta da fogueira e do assado comandado com muita competência pelo argentino Tadeu, bebemos muita tequila, muito meszcal e demos muita risada com as histórias contadas por Nuno e suas criativas interpretações. No domingo, uma ultima volta pelo centro do DF, uma visita ao Museu Murais Diego Rivera, fotos, papos, ultimas compras e muita, muita saudade.

Viva México!

Parte da coleção de máscaras de Leopoldo:

Nuno e a pequena Lena:




MAZUNTE

Com dor no coração por ir embora de San José e porque a viagem está acabando (tenho somente mais uma semana) fui na sexta-feira, 20 de Janeiro, na hora do almoço pra Potchula. Eu também senti o poder de San Jose - e da casa de Catalina - de prender as pessoas e também tive vontade de ficar por ali. Mas, enfim a vida continua e minha opção de vida não é - ainda - a de viajeira... E também, eu queria muito conhecer o litoral do estado de Oaxaca, afinal estava há 3 horas dele.

Saímos eu, Jimena e Wagner rumo ao Pacífico. 3 horas de pura curva! Chegamos em Potchutla verdes, enjoadíssimos, com fome e muito calor (estávamos agasalhadíssimos, porque nas montanhas fazia muito frio). Em Potchutla muito sol e calor. Pegamos um caminhão para Mazunte, povoado que estava há mais ou menos meia hora de Potchutla.

Mazunte é um pequeno povoado que tem praticamente uma única rua onde se concentram pousadas, um pequeno comércio, restaurantes, campings, a escola... As pequenas ruas perpendiculares dão acesso à praia ou levam às casas e algumas hospedagens do povoado. Na frente da praia também estão os campings, pousadas, cabanas e restaurantes. O impressionante de Mazunte é que as decisões coletivas são tomadas em assembléias por a toda a comunidade. Duas decisões interessantes: os estrangeiros podem possuir propriedades no povoado, mas não podem lucrar; não pode haver discrepância entre as opções de hospedagem, ou seja, não pode haver grandes e sofisticadas pousadas ao lado de campings simples.

Amanhecer em Mazunte:


Praia de San Agustinillo:

A vida segue muito tranqüila em Mazunte. O povoado é muito silencioso, barulho mesmo só dos pássaros que são muitos e que gritam o tempo todo. Aluguei uma cabana em frente ao mar e fiquei em Mazunte por 7 dias. A cabana ficava na propriedade de uma família que alugava espaços para camping e cabanas. Tavo é nativo de Mazunte, trabalha na pesca e nos passeios de barco; Patrícia, sua esposa, nascera numa praia próxima, cuida de todo trabalho doméstico. Tavo estava sempre tranqüilo, sentado olhando o mar, ajeitando uma coisa aqui outra ali na casa, batendo um papo com a gente. Patrícia estava sempre correndo pra cima e pra baixo, cuidando da casa, das roupas, alimentando as crianças. Era visível seu stress em seu cotidiano doméstico.

Junto ao casal moram dois filhos adolescentes, a netinha de Patrícia - de uns 3 anos e que fora deixada pela mãe para ser criada pela avó -, Laura - a filha mais velha -, seu filhinho e seu companheiro. Laura tem 17 anos e é mãe de um bebê de menos de 2 anos. Seu companheiro não aparenta ter mais de 18 anos. Nestes sete dias participamos do cotidiano da família e compartilhávamos com eles alguns espaços. Estávamos eu, Jimena (argentina), Wagner (brasileiro), Gerardo (Mexicano), um casal de mexicanos, Guillermo e sua namorada (dois espanhóis, ele malabarista que viajou pelo Brasil trabalhando nos faróis de cidades como Teresina, Belém do Pará, São Paulo; ela massagista e aprendiz de malabares) e outras pessoas que chegavam para acampar, como dois artesãos mexicanos. Um deles, também músico e fã da música brasileira, adorava O que será? e Construção, de Chico Buarque. Seu sonho era aprender a cantá-las em português (O que será? quase inteira ele sabia cantar em espanhol).

Minha cabana é a ultima antes de começarem as cadeiras e os guarda-sóis:

Homem deitado olha o mar:
Tortugas voladoras de piedra:

Praias Mazunte e San Agustinillo:

Teve dias em que eu, literalmente, só me movia da areia para o mar. Descanso, tranqüilidade total. Fui à praia de San Agustinillo, Zipolite, Ventanilla, Punta Cometa, Porto Angel e Marmecita, todas bem próximas à Mazunte e cada uma com uma beleza particular. No fim do dia era de praxe o por do sol em Punta Cometa, a ponta mais sul do pacífico mexicano.

Delicioso também era o banho no transparente e cheio de peixes coloridos Jacuzzi, uma espécie de piscina com hidromassagem natural. Dava vontade de ir embora? Cada lugar desse México com suas belezas particulares e especiais dá vontade de ficar. De todos os lugares que passei (DF, Mérida, Celestun, Valladolid, Cancun, Isla Mujeres, Tulum, Palenque, Lagos Monte Bellos, Frontera Corozal, San Cristóban de las casas, Oaxaca, San Jose del Pacífico e Mazunte) em pelo menos 3 destes lugares eu senti uma profunda vontade de ficar. Ficar mesmo, mergulhada por muito tempo. Mazunte foi um desses lugares.

Ida pro Jacuzzi e Punta Cometa com Michela, Jimena, Wagner, Jéssica e Alberto:

Jacuzzi:
Por do sol em Punta Cometa:
Cemitério de Mazunte:


Praia de Zypolite:

Apesar da tranqüilidade do povoado, há noites agitadas pelos bares e por um Centro Cultural do povoado. Das 6 noites que passei no povoado, em 4 teve boas baladinhas: apresentação de boas bandas de cumbia, salsa, blues, ska e um divertido show de um palhaço e uma trapezista. Alberto e suas duas amigas italianas Jessica e Michela - que estavam em San Jose - também chegaram em Mazunte; Salvatore, italiano que estava no Los Amigos em Oaxaca e na casa de Catalina também estava em Mazunte. Jimena (argentina) e Wagner (brasileiro) também eram companheiros de viagem desde Oaxaca. Ao grupo se somou Gerardo, mexicano, estudante de antropologia que pesquisa sobre os viajeiros... viajando e o casal de espanhóis.

Mazunte foi um especial quase-fim de viagem. O mar azul, as crianças na escola, a comunidade decidindo sobre seu povoado, os muitos pássaros que me acordavam todos os dias, o por do sol em Punta Cometa. Tudo isso reforçou minha crença de que é possível. É possível viver e acreditar. Acreditar que o mundo pode ser diferente.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sobre viajar e cantar


"Los cantos viajan; un camino transitado, importante, lleno de vida es el mejor espacio para que se muevan y transformen. En su movimiento, el canto y el cantor se transforman cada día. No es el mismo cuando regresa del viaje ni son los mismos sus escuchas. Cambiar, moverse y volverse tradición".
(trecho retirado do CD Camino Real de Tierra Adentro, obra realizada pela Universidad Autónoma dae Ciudad de Juárez)


SAN JOSÉ DEL PACÍFICO
Dia 16, ainda em Oaxaca, estava em duvida sobre ir direto para a praia - Mazunte - ou parar na cidade de San Jose del Pacifico (que fica nas montanhas, no meio do caminho entre Oaxaca e Potchula - cidade que dá acesso à Mazunte). Muitos me diziam que a viagem Oaxaca/Potchula era muito cansativa, que haviam milhares de curvas dentre as montanhas e que compensava parar um pouco em Jose para depois seguir para o litoral. No entanto, ninguém me dava nenhuma informação precisa sobre a tal cidade: como era, o que tinha para fazer etc. Na segunda-feira de manha Tamara, uma argentinha que acabara de voltar de S. José, me falou tão empolgada da cidadezinha e fez uma descrição tão bonita que me decidi. Fui. Três horas de Oaxaca à San Jose del Pacífico. Foi uma das melhores decisões da viagem.
O povoado fica cravado na montanha. A paisagem é belíssima. No fim da tarde parte da cidade fica sobre as nuvens. É fantástico. Fiquei na Casa de Catalina, hoje hostel, mas, há alguns anos atrás, a casa de uma senhora chamada Catalina. Ela recebia os viajantes, cobrando-lhes apenas o valor das coisas que iria comprar para preparar-lhes refeições. Todavia, o clima da montanha não fazia bem à dona Catalina e ela se mudou para o litoral. Non, um viajante coreano que estava hospedado em Catalina ficou de vez na casa e assumiu sua “direção”. Outros também chegaram e ficaram: Ariel e Anuar, mexicanos e Ashkan, um iraniano. Apesar de Non ser o mais antigo na casa, tudo parece ser bem coletivizado, sem hierarquias ou papéis muito definidos. A casa tem um astral tão bom que todos entram na onda da organização e limpeza. Inclusive nós, os hóspedes.
CASA DE CATALINA:

Vista da Casa de Catalina:









ESCOLA EM S. JOSÉ:



Paisagem cinematográfica. Uma casinha verde, de madeira, cravada na montanha, faz sol forte durante o dia, o céu é de azul anil, ao redor a paisagem verde de uma cadeia de montanhas parece não ter fim, mas a noite, do alto das montanhas, conseguimos Visualizar muito ao longe luzes de uma cidade. Anuar diz que é Mazunte, no litoral.
Éramos mais ou menos uns 15 entre os hospedados e os que cuidavam da casa. Tinha iraniano, suíço, mexicanos, italiano, brasileiros, argentinos, coreano, português, israelita, franceses e mais três italianos que sempre apareciam durante a noite. A casinha tinha um clima ótimo. Durante o dia tomávamos sol na terraça de frente para as montanhas, caminhávamos pelos bosques nos arredores ou pensávamos no menu da noite. A noite era de musica, bate-papo e muita mota e raxi (baratíssimos por sinal), músicas do Movimento Nueva Canción Chilena, puxadas por Anuar e o visitante italiano Alberto. Os movimentos de Nueva Canción nasceram nos anos sessenta e foram marcados por grandes correntes sociais e políticas da época que estimularam a criação artística e a expressão de sentimentos imbuídos de um ideal libertário e de justiça para a toda a América Latina (comprei um CD no Chile na volta viagem!!!). Anuar havia me falado sobre o movimento e suas músicas na noite anterior. As interpretações dele e Alberto foram lindas. Houve momentos de muita emoção dos cantantes. Bonito de ver e ouvir


Askhan e Anuar:

Non:

César e Anuar:

Askhan, eu e Wagner:

César:

Pela hospedagem pagávamos 90 pesos (uns 13 reais aproximadamente). Neste valor estavam incluídos café da manha, almoço e janta. A galera gostava muito de cozinhar (e cozinhava muito bem), então sempre tinha comida muito boa.

CASINHA EM SAN JOSÉ:




Dentre as caminhadas pelos bosques, uma bem divertida foi a que fizemos para o povoado de San Sebatian (eu, Ashkan, Jimena e Wagner). Segundo o pessoal da casa, levaríamos no maximo 2hs. Seguimos as indicações da galera e tudo deu certo até que encontramos a primeira bifurcação e outra e outra e outra. Andamos durante 5hs por trilhas que existiam e por outras que inventávamos. O caminho era lindo. Céu azul, árvores excêntricas, insetos coloridos, muitas flores, cabras, burrinhos. San José é a terra dos cogumelos. Champignons comíamos muitos, mas os da brisa não estavam na época. A melhor época pros alucinógenos é setembro. Se sem cogumelos a paisagem já era maravilhosa com sua diversidade de cores e imagens saltando aos nossos olhos, totalmente psicodélica, imaginem sob efeito desses fantásticos fungos...

BOSQUE A CAMINHO DE SAN SEBASTIAN:








Apesar das nossas opções por caminhos nem sempre fáceis, nosso senso de direção estava correto e depois de umas 3hs e meia de caminhada avistamos San Sebastian. Ao longe ouvíamos os som de trombones e outros instrumentos musicais. Havia festa na cidadezinha. No meio daquele bosque, ao som daquela musica, parecíamos estar num filme de Kusturica. Encontramos um senhor no caminho e perguntamos quanto tempo ainda faltava pra chegar à cidadezinha. Ele nos disse que mais ou menos uma hora. Achamos que ele estava viajando, afinal ouvíamos e conseguíamos ver a cidade. Mas estávamos no meio das montanhas e avistar uma cidade num lugar como aquele não significa necessariamente chegar facilmente até ele... Depois de mais uma hora e meia de sobe e desce chegamos à San Sebatian. Descobrimos que a música era de um funeral e não da festa (que realmente estava acontecendo na cidade), tiramos fotos com crianças, andamos pelo simpático povoado, comemos (estávamos mortos de cansaço e fome!) e voltamos de táxi para S. José del Pacífico.

SAN SEBASTIAN: