Por Angela Grillo
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
Por Angela Grillo
Al poco de nacer viene el asombro. Y de brinco em brinco em los asombros nace el juicio. Y el juicio explica los assombros y el hombre se siegue asombrando, pero com juicio. Y se llega em la vejez al juicio de los juicios. No hay viaje directo del asombro al juicio. Cuando se rompe el juicio con el nuevo asombro, se hace indispensable um nuevo juicio que con sua razón rompa el asombro. (Alfredo López Austin. MACO - Museu de Arte Contemporânea de Oaxaca)
A viagem está acabando... uma dor no coração e uma certeza: é preciso voltar ao México. Pena que nossa passagem pela terra seja tão breve, porque é preciso voltar sempre.
Dor boa daquelas que vem misturada com alegria nostálgica, aquela alegria da saudade que só quem viveu sabe o que é. Uma alegria que paradoxalmente é um pouco triste também.
Os 30 primeiros dias foram mais corridos e cansativos, mas, apesar do turismo que fazíamos, procurávamos sempre ser viajantes (Gerardo me disse que nem sempre conseguimos separar essas duas coisas, o que é uma grande verdade), aprendendo com a cultura, encarando o estranhamento – com os observados e com nós mesmas – como uma forma de aprendizagem. Não há aprendizagem sem desestabilização já dizem alguns teóricos da educação. No caso de uma viagem para outro país e de seu inevitável contato com outra cultura, não há aprendizagem sem cansaço, sem sentir gosto e cheiros nem sempre conhecidos e agradáveis aos nossos sentidos (aprendidos em âmbitos macro e micro), sem a percepção de que temos pré-conceitos, sem desestabilização, portanto, e sem esforço. Esforço pra entender desde a língua diferente até o jeito próprio de lidar com situações cotidianas. Esforço para entender a importância da diferença e respeitá-la e não simplesmente tolerá-la. E sem medo de dizer (para nós mesmos) que há esforço para tudo isso, afinal este é parte fundamental do processo de qualquer aprendizagem. Para mim quando já não precisamos nos esforçar para entender que algo é de determinada forma porque é condicionado pelas dinâmicas culturais e sociais específicas, encontramo-nos mergulhados na cultura de tal forma que comparações que insistem no binômio melhores-piores tornam-se maniqueístas e inúteis.
“Escuta, eu te deixo ser. Me deixa ser então”. Clarice Lispector, em Água Viva
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Foram dias de contato com uma natureza gigantesca e diversa: a selva de Chiapas, o frio das montanhas de Oaxaca, o sol quente das praias do Pacífico, o frio de doer os ossos em Montebellos, o azul profundo do mar do caribe, o mergulho nos corais (o Caribe por baixo), a magnífica visão da gigante tartaruga negra botando ovos na praia em Mazunte. Dias, muitos deles indescritíveis, com a cultura colorida, diversa, rica. Com a emoção de ver, em pleno século XXI um ritual tão puro e espontâneo como o de San Juan de Chamula; muitos dias de con-vivência com o cheiro da comida à base de milho que se espalha pelas ruas, com o sabor dos diversos tipos de chilli, com muita história cravada nas ruínas, nas ruas, nos mercados, nas igrejas. Com os muitos Méxicos.
As idas aos museus de Antropologia, de Arte Contemporânea, à Casa de Frida Khalo, aos murais de Rivera, Siqueros e Orozco foram belíssimas, emocionantes eu diria, mas nada substitui o contato concreto com a cultura, com as pessoas na rua, com as coloridas senhoras de Tlacolula em Oaxaca, com o barulho, as cores e os cheiros dos mercados públicos, com as caras que miramos e que nos miram a todo tempo: de crianças, velhos, mulheres muito maquiadas, pessoas que nos pedem coisas na rua, que nos interpelam para que compremos artesanatos, comidas, para que façamos tours por cascatas, mangues, ruínas, que nos perguntam de que parte somos e que num misto de surpresa e admiração dizem (principalmente os homens) "brasilenãs, uau!". Mas também, com o desconforto de encontrar policiais altamente militarizados nas ruas, nos ônibus, nas praias. Isso sim me dava medo e raiva. Saber que as pessoas convivem cotidianamente com batidas policiais enquanto o narcotráfico corre solto pelo país e muitos policiais estão, inclusive, envolvidos com ele.
Ao despedir-me do México tenho a mesma sensação vivida na Bolívia, no Peru, em Cuba, no Uruguai: é necessário sabermos mais sobre nossa Latinoamérica, é necessário conhecermos cada vez mais nossa cultura e a cultura de nossos hermanos latinos. A América Latina tem uma força tremenda. É linda, colorida, lugar de mulheres e homens fortes, guerreiros/as, criativos/as, inteligentes, bonitos/as.
O que esperava ao início da viagem se realizou: ela me trouxe conhecimentos, emoções, dúvidas, questões sobre mim e sobre o mundo, sobre as formas de viver. As diversas, infinitas e infindas formas de viver nesse NOSSO mundo, nessa NOSSA América Latina.
Responsabilizamo-nos por ela!
He estado en el norte
Por Maíra Castanheiro Magalhães de Moraes
(impressões poéticas de Maíra sobre outra parte do México que ainda não conheço)
He recorrido entre montañas llanuras desiertos playas bosques grutas
He despertado de mi sueño y topado con la realidad de piedra bruta
He caminado en un jardín de piedras moldeadas por el tiempo de la naturaleza
He contemplado la nieve bajo el cielo azul turquesa
He mirado los rayos y brillos del sol en los rostros de los tarahumaras
He observado muchas expresiones en sus caras que nosotros blancos ya no la tenemos
He vagado con el pancho por las letras de calle 13 al viento
He sentido pacho villa vivo y querido
He percibido un pueblo tomado por el miedo de los peligros
He platicado con una mujer infeliz que por la sequía ya no tiene dónde sembrar su maíz allá las personas están muriendo de hambre y siendo explotadas hacen 500 años tus cuerpos acumulan daños y aunque haya miles de muertos el pueblo no se muere
He conocido personas amables de pueblos que no quieren la guerrilla apenas luchan para tener sus tortillas del día a día esa gente vive bajo a la violencia política económica de los narcos de la policía del ejército así me habló un reportero
He notado su miseria vendida a fotografías y recuerdos
He descubierto cosas lindas
He oído cosas malas
He leído cosas feas lo que me pareció feo y malo no están en los periódicos porque no afectan los negocios
He fumado mota de Sinaloa mientras él comía un picoso burrito de barbacoa
He alcanzado el mar frío del pacífico
He estado en el viejo oeste una tierra sin abrigo hice amigo conocí a Jesús en la navidad Él ha peregrinado por toda su vida desde los 13 años de edad cruzó el desierto hacia Arizona pasó hambre sed y sobrevivió sin lana
He distinguido cabrones
He escuchado inglês
He escuchado espanglish
He comido quesos menonitas
He apreciado el cielo más lindo de mi vida
He disfrutado del azul celeste de Durango
He soportado el frío en mi cara y el fuego en blando
He espiado el sol morir mientras la luna sonreía por todo el día no
He vigilado el sol nacer
He observado la luna de guardia
He pisado en el espinazo del diablo
He visto el pueblo sufrir
He fotografiado ojos desconfiados
He estado en Chihuahua
He visto niños jugando beisbol bajo el sol nahua
He pasado por bosques de violáceos cactos
He andado por el norte una tierra en pedazos dónde el suelo es tan duro y bruto cuanto su propio pueblo hecho de adobe que has resistido al tiempo a la tierra a las piedras sus pieles son bordados de color de dolor de un futuro incierto aunque sean vencidos siguen siendo los vencedores del desierto.
Bienvenidos a una tierra de historia incierta.
...
A volta ao DF, apesar de rápida foi muito gostosa. Encontrei meus queridos amigos Nuno e Maíra, bebemos, batemos muito papo e demos muita risada. Martin, também brasileiro, um amigo de Maíra que eu e Angela conhecemos em San Cristóban de las casas, também estava conosco.
No sábado um churrasco animado na casa de Leopoldo, um querido anfitrião que trabalha na Cinemateca Nacional e pesquisa o negro no cinema mexicano. Conosco estavam argentinos, franceses, colombianos e brasileiros. Éramos a maioria. Em volta da fogueira e do assado comandado com muita competência pelo argentino Tadeu, bebemos muita tequila, muito meszcal e demos muita risada com as histórias contadas por Nuno e suas criativas interpretações. No domingo, uma ultima volta pelo centro do DF, uma visita ao Museu Murais Diego Rivera, fotos, papos, ultimas compras e muita, muita saudade.
Viva México!
Parte da coleção de máscaras de Leopoldo:
MAZUNTE
Com dor no coração por ir embora de San José e porque a viagem está acabando (tenho somente mais uma semana) fui na sexta-feira, 20 de Janeiro, na hora do almoço pra Potchula. Eu também senti o poder de San Jose - e da casa de Catalina - de prender as pessoas e também tive vontade de ficar por ali. Mas, enfim a vida continua e minha opção de vida não é - ainda - a de viajeira... E também, eu queria muito conhecer o litoral do estado de Oaxaca, afinal estava há 3 horas dele.
Saímos eu, Jimena e Wagner rumo ao Pacífico. 3 horas de pura curva! Chegamos em Potchutla verdes, enjoadíssimos, com fome e muito calor (estávamos agasalhadíssimos, porque nas montanhas fazia muito frio). Em Potchutla muito sol e calor. Pegamos um caminhão para Mazunte, povoado que estava há mais ou menos meia hora de Potchutla.
Mazunte é um pequeno povoado que tem praticamente uma única rua onde se concentram pousadas, um pequeno comércio, restaurantes, campings, a escola... As pequenas ruas perpendiculares dão acesso à praia ou levam às casas e algumas hospedagens do povoado. Na frente da praia também estão os campings, pousadas, cabanas e restaurantes. O impressionante de Mazunte é que as decisões coletivas são tomadas em assembléias por a toda a comunidade. Duas decisões interessantes: os estrangeiros podem possuir propriedades no povoado, mas não podem lucrar; não pode haver discrepância entre as opções de hospedagem, ou seja, não pode haver grandes e sofisticadas pousadas ao lado de campings simples.
Amanhecer em Mazunte:
A vida segue muito tranqüila em Mazunte. O povoado é muito silencioso, barulho mesmo só dos pássaros que são muitos e que gritam o tempo todo. Aluguei uma cabana em frente ao mar e fiquei em Mazunte por 7 dias. A cabana ficava na propriedade de uma família que alugava espaços para camping e cabanas. Tavo é nativo de Mazunte, trabalha na pesca e nos passeios de barco; Patrícia, sua esposa, nascera numa praia próxima, cuida de todo trabalho doméstico. Tavo estava sempre tranqüilo, sentado olhando o mar, ajeitando uma coisa aqui outra ali na casa, batendo um papo com a gente. Patrícia estava sempre correndo pra cima e pra baixo, cuidando da casa, das roupas, alimentando as crianças. Era visível seu stress em seu cotidiano doméstico.
Junto ao casal moram dois filhos adolescentes, a netinha de Patrícia - de uns 3 anos e que fora deixada pela mãe para ser criada pela avó -, Laura - a filha mais velha -, seu filhinho e seu companheiro. Laura tem 17 anos e é mãe de um bebê de menos de 2 anos. Seu companheiro não aparenta ter mais de 18 anos. Nestes sete dias participamos do cotidiano da família e compartilhávamos com eles alguns espaços. Estávamos eu, Jimena (argentina), Wagner (brasileiro), Gerardo (Mexicano), um casal de mexicanos, Guillermo e sua namorada (dois espanhóis, ele malabarista que viajou pelo Brasil trabalhando nos faróis de cidades como Teresina, Belém do Pará, São Paulo; ela massagista e aprendiz de malabares) e outras pessoas que chegavam para acampar, como dois artesãos mexicanos. Um deles, também músico e fã da música brasileira, adorava O que será? e Construção, de Chico Buarque. Seu sonho era aprender a cantá-las em português (O que será? quase inteira ele sabia cantar em espanhol).
Minha cabana é a ultima antes de começarem as cadeiras e os guarda-sóis:
Teve dias em que eu, literalmente, só me movia da areia para o mar. Descanso, tranqüilidade total. Fui à praia de San Agustinillo, Zipolite, Ventanilla, Punta Cometa, Porto Angel e Marmecita, todas bem próximas à Mazunte e cada uma com uma beleza particular. No fim do dia era de praxe o por do sol em Punta Cometa, a ponta mais sul do pacífico mexicano.
Delicioso também era o banho no transparente e cheio de peixes coloridos Jacuzzi, uma espécie de piscina com hidromassagem natural. Dava vontade de ir embora? Cada lugar desse México com suas belezas particulares e especiais dá vontade de ficar. De todos os lugares que passei (DF, Mérida, Celestun, Valladolid, Cancun, Isla Mujeres, Tulum, Palenque, Lagos Monte Bellos, Frontera Corozal, San Cristóban de las casas, Oaxaca, San Jose del Pacífico e Mazunte) em pelo menos 3 destes lugares eu senti uma profunda vontade de ficar. Ficar mesmo, mergulhada por muito tempo. Mazunte foi um desses lugares.
Ida pro Jacuzzi e Punta Cometa com Michela, Jimena, Wagner, Jéssica e Alberto:
Apesar da tranqüilidade do povoado, há noites agitadas pelos bares e por um Centro Cultural do povoado. Das 6 noites que passei no povoado, em 4 teve boas baladinhas: apresentação de boas bandas de cumbia, salsa, blues, ska e um divertido show de um palhaço e uma trapezista. Alberto e suas duas amigas italianas Jessica e Michela - que estavam em San Jose - também chegaram em Mazunte; Salvatore, italiano que estava no Los Amigos em Oaxaca e na casa de Catalina também estava em Mazunte. Jimena (argentina) e Wagner (brasileiro) também eram companheiros de viagem desde Oaxaca. Ao grupo se somou Gerardo, mexicano, estudante de antropologia que pesquisa sobre os viajeiros... viajando e o casal de espanhóis.
Mazunte foi um especial quase-fim de viagem. O mar azul, as crianças na escola, a comunidade decidindo sobre seu povoado, os muitos pássaros que me acordavam todos os dias, o por do sol em Punta Cometa. Tudo isso reforçou minha crença de que é possível. É possível viver e acreditar. Acreditar que o mundo pode ser diferente.