quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Tulum, 29/12/2011


Sobre o fetiche do rústico
Karl Marx já havia dito em fins do século XIX que tudo viraria mercadoria, que uma coisa só teria valor de ela pudesse ser consumida, se ela nos pertencesse, se fosse nossa. A isso se soma a esperteza do capitalismo que inverte todas as lógicas a seu favor. Assim, o que há algum tempo atrás era desprezado, marginalizado é hoje largamente consumido à largos dólares (e reais no caso do Brasil). Saias e sandálias estilo "hippies chic" povoam as lojas dos shopping centers, por exemplo. No caribe mexicano quem desfruta de algumas lindas e azulzíssimas praias não são os mexicanos, mas aqueles que, provavelmente, abandonam seus grandes cargos, negócios próprios e escritórios para usufruir do fetiche do rústico com todo o conforto que seu dinheiro possa pagar. Assim são as “Cabanas” espalhadas por boa parte da orla da praia de Tulum. Evidentemente há cabanas rústicas sem luz elétrica, mas a maioria são hotéis “rústicos“, roots chic, onde seus hóspedes vivem o sonho da simplicidade com muito conforto. São muitos quilômetros de belas praias que só se podem ser acessadas publicamente pela ponta. Teoricamente essas “cabanas” dariam acesso à praia, mas só aqueles que estão hospedados podem passar. Quem não é hóspede ou entra pela ponta da praia ou não entra. Os hotéis não deixam passar. Toda a “orla” é propriedade privada. Nessa lógica consumista-individualista-capitalista, mais chic, confortável e agradável é o lugar se ele pertencer a uma minoria. E se ela for branca e rica - ou portar-se como - melhor ainda. E se lá não estiverem os nativos, os locais, os pobres, os indígenas, os negros, os feios, está perfeito. Isso acontece em praias brasileiras. Já vi isto em Pernambuco, na Bahia, em São Paulo. São km de belas praias sendo transformadas em resorts, hotéis, condomínios. Cabanas é a primeira vez que vejo.É muita ironia porque os cabaneiros estão muito distantes dalí. Os mais próximos talvez ali estejam como serviçais das cabanas. Como bem preconizou Karl Marx, se essas praias são apreciadas porque são belas, mais ainda o serão se pertencerem a alguém que pode ser uma pessoa, um grupo, uma classe. E se se puder pagar caro por elas, evidentemente.

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